domingo, 20 de julho de 2014

Portifólio solicitado como um dos requisitos de avaliação do componente curricular IPSC23 - Psicologia do desenvolvimento da criança

sábado, 19 de julho de 2014

Momentos...

Da minha infância, quase nada conseguia me lembrar de fato , eram pedaços de momentos e outras tantas coisas que já não sou capaz de discernir se de fato aconteceram, ou não. Para a realização deste trabalho, contei com a ajuda de meus pais, que mesmo de longe me auxiliaram bastante. Escolher, dentre tanta coisa não é tarefa fácil, porém, por achar que os momentos escolhidos eram relevantes e dialogarem o suficiente para adentrarem este trabalho, além de não ter problema em expor estes, alguns foram bastante significativos, como o nascimento da minha irmã por exemplo, que lembro vagamente, mas toda vez que ouço meus pais contarem me sinto tão feliz. Então, foram selecionados quatro momentos dos quais escrevi pequenas poesias e comentei à luz das teorias expostas durante o curso.

1.  Aquisição da linguagem
Mainha já dizia:
Aponta pra tudo, não fala quase nada
Mas eu sei o ela que diz
Quer água, né?
Oh, sede!
Foi bebendo até conseguir
Beber palavras também.
‘Áda!’

A maior alegria era
Descobrir novas palavras
Apontava aqui e ali,
Quando levantava às quatro da manhã
E apontava para a porta
Dizendo ‘rua’
Painho já sabia.
Levava a menina conversadeira
Que queria ver a rua,
Queria ver gente.

Mas às quatro da manhã?
Sim, e há jeito?
Só esse resfriado...

Parecia mais um papagaio
E painho ria,
Mas às quatro horas da manhã?
Apontava o dedo

Pequenininho e dizia mandona:‘rua’!

AA comunicação precede a aquisição da linguagem. Por volta dos dois meses, por exemplo, o bebê desenvolve o chamado sorriso social, que expande e muito a sua capacidade comunicativa com os seus cuidadores. Até chegar a linguagem verbal, é um longo processo, que vão desde os sorrisos sociais, até o ato de apontar do bebê para indicar o que deseja e o que lhe interessa. Como escrito no poema, eu iniciava apontando, logo depois iam surgindo pequenas palavras, frases... De acordo com Cole & Cole (2004), as palavras só irão começar a aparecer no final de um ano. Antes disso, há toda uma preparação por meio de gestos com as mãos, balbucios que vão ganhando a aparência da fala verbal. De acordo com os autores, o vocabulário que as crianças entendem é maior do que capacidade de usar palavras, e que estas primeiras palavras aprendidas, geralmente detém relações com suas ações sobre objetos que são capazes de utilizar.
As crianças, no seu percurso de aprendizagem da linguagem começam a aprender, em determinado período que um mesmo objeto pode ser nomeado de várias formas distintas, são os chamados níveis de abstração. Ao estarem familiarizadas com circunstâncias de ordem mais concreta, as crianças tendem a começar a desenvolver significados conceituais, num nível mais abstrato, não apenas na situação concreta.
As palavras isoladas, em crianças pequenas, podem ser utilizadas quando querem comunicar uma frase, são as holofrases, como no exemplo do poema em que ‘áda’ e ‘rua’ representam palavras que tem em si o sentido de uma frase inteira, como “Eu quero água, estou com sede!”, “Me leva para passear!”. 
Há diferentes abordagens que tentam dar conta de formular uma explicação acerca da aquisição da linguagem, entre elas está a abordagem da teoria da aprendizagem, a abordagem inativista e as abordagens interacionistas. A primeira, explica  aquisição da linguagem afirmando que as palavras são aprendidas por meio da imitação e dos condicionamentos clássico e operante. A abordagem inatista, falam de um Dispositivo de aquisição da linguagem (DAL) que é inerente ao ser humano, ativado pelo ambiente em determinado momento maturativo. E as teorias interacionistas, consideram a cognição e o ambiente social para a aquisição de um sistema de apoio a aquisição da linguagem (SAAL).
Apesar de tantas teorias, nenhuma delas consegue fornecer um teoria completa de explicação acerca do fenômeno de como as crianças adquirem a linguagem, entendendo e começando a adquiri-la sem nenhuma influência de outros. Mas isso não descarta a importância da influência, esta é essencial para a aquisição da linguagem. Seria mais satisfatório, considerar elementos de todas estas teorias e complementá-las, cada uma delas tem uma contribuição muito importante para dar ao nosso entendimento sobre.



2. Aprendendo a andar
O corpinho gordo
E desengonçado
Vai encostando nas paredes
Cheio de si.
Ninguém pode segurar na mão,
Tentar ajudar.
É quase pecado.
O corpo revoltado diz:
“Vou sozinha!”
Mas se cai, aceita consolo,
O beijo, o carinho,
Que cuidem do machucado...
Se coloca algum brinquedo em sua frente
Esquece o trauma
Vem correndo atrás de novo.
Tenho certeza que pensa isso:
“O mundo é meu!”
E com um sorriso do tamanho
Do mundo,
Cai de novo.
E levanta, segura, anda, cai, levanta...

De acordo com Palácios e Mora (2004), o crescimento ocorre segundo ‘ordens’ de um calendário maturativo, que ocorre de modo mais contínuo. Aqui, irei me ater à psicomotricidade, que de acordo com os autores, é o mundo das relações psiquismo-movimento e vice-versa.
O desenvolvimento psicomotor tem como objetivo o controle do próprio corpo. Este desenvolvimento, envolve tanto componentes externos, a ação, como componentes internos, sua representação. (Palácios e Mora, 2004). Aos dois anos de idade, a criança já é capaz de manter um controle sobre o seu próprio corpo, como por exemplo, andar, como o desenvolvimento dessa habilidade que foi descrita acima. Ao contrário, o bebê com seus poucos meses, é incapaz de ter este controle. Os autores explicam que o desenvolvimento deste controle, segue duas leis, a céfalo-caudal e o desenvolvimento próximo-distal. A primeira lei explica que, a criança primeiro detém o controle das partes que estão mais perto de sua cabeça e vai 'descendo' depois. Já na lei próximo distal, o que é controlado primeiramente são as partes que encontram-se mais perto do eixo corporal.
Há ainda, a chamada psicomotricidade fina, que é "relacionado com a coordenação de grandes grupos musculares envolvidos nos mecanismos da locomoção, do equilíbrio e do controle da postura global." (Palácios & Moura, 2004). Os autores salientam o sistema motor não apenas como um resultado da maturação biológica do indivíduo, mas também das especificidades da criança e características de estímulo do ambiente no qual ela está inserida. Como exemplo, o fato dos meus pais me incentivarem no período em que eu estava aprendendo a andar, com brinquedos que eram colocados cada vez mais longe na forma de brincadeira para que eu os alcançasse, servia de estímulo para o meu desenvolvimento psicomotor. Porém, os estímulo em si, não vai garantir o desenvolvimento de certas habilidades motoras se o bebê ainda não estiver preparado para tais mudanças em seu calendário maturativo.




3.  Entrada na escola

Nunca quis que pegassem
Em minha mão de aprendiz.
Queria fazer tudo sozinha
E lá vinha mainha a dizer:
Tá bonito, mãe!
Mas eu sempre dizia que não.
Refazia, apagava, soprava os defeitos
Como fazia com um dente-de-leão.
Caprichosa até demais, mainha dizia
Cheia de orgulho, cheia de si
Minha filha foi adiantada do pré
Para o primeiro ano, acredita?
Tão pequena ainda,
Aquelas perninhas grossas,
O olhar cheio de dengo...
E olha,  escrevia um A que parecia um guarda-chuva
Um ‘8’ que era mais
Um boneco de neve, gordinho
Duas bolinhas, assim...
E Mainha dizia espantada:
Chorou foi pra vir embora da escola,
Pode isso?
Eu chorei mais do que ela,
Desáaguo mais que minha filha.

 A entrada na escola, é um momento importante no desenvolvimento. Ainda mais para mim, que segundo minha mãe pedia desde sempre e havia o incentivo desde cedo em casa. Nesta parte irei utilizar Vigtsky para ancorar a discussão acerca deste momento do desenvolvimento.
Vigotsky, postulava que o desenvolvimento humano só é possível a partir da interação e o auxílio de outros indivíduos da espécie humana. Por isso a escola é um ambiente tão importanteno desenvolvimento. É lá que a criança terá um contato com diferentes outras, com quem também aprende, e com os professores.
Em questão de desenvolvimento, o autor define duas, a o nível de desenvolvimento potencial e o nível de desenvolvimento real. O ultimo é caracterizado pelas atividades que a criança já é capas de realizar sozinha sem a supervisão de outro. Já o nível de desenvolvimento potencial é uma etapa que enfatiza as descobertas posteriores, ainda não realizadas pela criança, mas que já está em via de ser desenvolvida desde que exista a intervenção de outra pessoa. A partir destes dois níveis de desenvolvimento é que Vigotsky fala em zona de desenvolvimento proximal, definida como sendo “a distância entre o nível de desenvolvimento real (...) e o nível de desenvolvimento potencial.” (Vigotsky, 1984. apud Oliveira, 2010).
A zona de desenvolvimento proximal se caracteriza por ser mais proppício a intervenção de outro. Como no caso da escrita, como dito acima que o meu A, logo no início parecia um cabo de guarda-chuva. Não seria possível que eu iniciasse a escrita de um ‘A’, mesmo com a ajuda de outrem, se este processo já não estivesse em uma época que estivesse sido desenvolvido em mim. A partir do momento que este processo é despertado, a intervenção começa a ser efetiva. Portanto, não adianta que sejam precoces, o inidivíduo, só vai conseguir começar a desenvolver determinada tarefa, se aqui já estiver em processo de desenvolvimento dentro dele. Não adianta por exemplo, tentar ensinar uma criança de um ano e meio a ler. Mais tarde sim, este processo obterá sucesso. Para isso os pedagogos tem um papel fundamental em saber enxergar as zonas de desenvolvimento proximal de cada criança e trabalhar em cima disso.

4.  Nascimento da irmã
Mainha, Juninho ta aí dentro
De sua barriga, né?
Ele sai quando?
Quero brincar com ele logo,
Traga Juninho...

Mainha, tá enjoada?
É Juninho fazendo bagunça
Aí dentro, né?
Shhh, fica quieto, Juninho!

Peraí, mainha
Que eu vou te abanar...
Fiquei cansada,
Vou parar um pouquinho, viu?
Eu te dou meu berço Juninho,
Mas fique quieto aí dentro.
Cadê meu irmãozinho, mãe?
Quando ele sai?

Ih, ele se mexeu!


Conversando com minha mãe, vi como este momento do nascimento da minha irmã foi importante, e como ele cabe aqui na discussão sobre desenvolvimento. Eu tinha quase três anos quando minha mãe teve a minha irmã, e foi um momento em que eu tive que aprender a dividir o carinho, as coisas, abrir mão de meu berço. Para algumas crianças, isso não seria nada fácil. Porém, meus pais contam que eu insistia com veemência para dividir as coisas com minha irmã, principalmente meu berço, que ia passar para ela (sim, é ela, eu chamava de Juninho porque meus pais não sabiam o sexo do bebê, então como não me disseram nada, achava que era Juninho e pronto. Isso perdurou até o nascimento, mesmo depois de ter sido escolhido o nome de minha irmã.).

Aqui, acho interessante, associar à luz da teoria da Análise do comportamento. Um dos primeiros aspectos seria a assertividade, que segundo Alvarenga, esta habilidade começa a ser desenvolvida por volta dos dois anos de idade e envolve a capacidade de negociar, sem infringir os sentimentos do outro. No dia do nascimento da minha irmã, ninguém queria me levar no hospital, mas eu precisava ver 'Juninho' fora da barriga, era muita ansiedade. Meu pai me conta que eu negociei com ele, até que ele me levou escondida para ver minha irmã. 
Neste momento, ainda é possível ver a presença da empatia, o colocar-se no lugar do outro. Aos três anos, eu abri mão de algumas coisas que eu ainda teria 'direito', em prol de algumas necessidade de minha irmã que iria nascer, e que eu, como mais velha, teria que me adaptar. 
A análise do comportamento expressa que o organismo, biologicamente construído interage com o seu ambiente, resultando num repertório comportamental, sendo que o organismo ao nascer, já traz todo um repertório inato.
Foram quatro momentos distintos, e comentários sobre eles relacionando à teoria estudada durante o semestre. 

REFERÊNCIAS
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ALVARENGA, P. O desenvolvimento sócio-emocional nos primeiros anos de vida e as contingências em operação na interação pais criança. 

COLE, M. & COLE, S. R. (2004). Aquisição da linguagem. Em: O desenvolvimento da criança e do adolescente. Cap. 8. Porto Alegre: ArtMed.

OLIVEIRA, M. K. (2010). Vygotsky: Aprendizado e desenvolvimento: um processo sócio-histórico. Cap. 04. São Paulo: Scipione.

PALÁCIOS, J. & MORA, J. (2004). Cresciemnto físico e desenvolvimento psicomotor até os dois anos. In: C. Coll, J. Palácios, & A. Marchesi. (orgs.). Desenvolvimento psicológico e educação, vol. 1 (psicologia evolutiva). Porto Alegre: Artes Médicas.